Vivemos numa era em que todos têm metas, mas poucos têm energia mental real para sustentá-las. Não por falta de vontade. Mas por falta de estratégia.
A maior parte dos líderes que atendo em consultoria chegam com uma sensação crônica de estarem ocupados demais e, ainda assim, avançando de menos. Aparentemente produtivos, mas profundamente dispersos. Eles confundem movimento com progresso — e esse é um dos maiores desvios da performance contemporânea.
A questão é: se o cérebro não consegue sustentar atenção, não adianta sustentar metas.
Em um ambiente corporativo hiperconectado, o maior desafio de um líder não é apenas tomar boas decisões — é sustentar o foco necessário para que essas decisões se mantenham relevantes ao longo do tempo.
Distrações constantes, excesso de estímulos e jornadas de trabalho fragmentadas têm drenado a energia mental dos líderes. O resultado? Perda de constância, dificuldade de priorização e sensação crônica de improdutividade.
Mas o problema, muitas vezes, não é falta de esforço. É uma má gestão da própria energia cognitiva.
Outro estudo, publicado na Journal of Experimental Psychology, mostrou que profissionais que se concentram em uma tarefa por vez têm desempenho significativamente superior em qualidade e velocidade, mesmo em ambientes de alta demanda.
O foco, portanto, não é apenas atenção. É a escolha consciente de conservar energia cognitiva para o que realmente importa.
No centro desse desafio está o funcionamento do foco sustentado — uma capacidade que envolve diretamente o Sistema Reticular Ativador Ascendente (SRAA), localizado no tronco encefálico. O SRAA atua como um filtro sensorial que determina quais estímulos merecem nossa atenção consciente. Ele decide o que vai para a área racional do cérebro e o que será ignorado.
Esse sistema é constantemente influenciado por dois fatores principais:
1. Relevância emocional: aquilo que associamos a uma ameaça, desejo ou recompensa.
2. Repetição com intenção: quanto mais um estímulo é reiterado, mais forte ele se torna como prioridade neural.
Ou seja, tudo o que um líder repete com intenção molda sua própria percepção — e também a forma como sua equipe o percebe. Como costumo dizer:
“O que você repete com intenção molda sua autoridade com direção. O que você repete sem perceber, molda sua liderança sem você querer.”
Segundo estudos da Universidade de Stanford (2018), o cérebro humano médio toma mais de 35 mil decisões por dia. E cada microdecisão consome energia mental.
A atenção sustentada é um recurso escasso e finito, mediado por neurotransmissores como a acetilcolina (ligada à plasticidade e foco) e a dopamina (ligada à motivação e recompensa).
É por isso que líderes que não regulam seu ritmo mental acabam entrando em estado de fadiga decisional — o que compromete diretamente o discernimento, a comunicação e a autoridade percebida pela equipe.
Muitos líderes confundem velocidade com eficiência. Mas não adianta correr sem saber onde se quer chegar. A liderança precisa de ritmo — e ritmo exige inteligência energética.
A Harvard Business Review destacou em 2023 que líderes que gerem seus ciclos de atenção de forma estratégica (alternando blocos de esforço intenso com pausas regenerativas) tomam decisões mais acertadas e têm equipes mais engajadas.
Na prática da consultoria, vejo esse padrão se repetir.
Líderes que fazem pausas conscientes, que bloqueiam períodos de foco profundo e reduzem decisões triviais (como o excesso de reuniões sem pauta clara), desenvolvem mais clareza e constância.
Ao longo dos anos, percebi um padrão comum nos líderes com maior impacto: eles não apenas “estão presentes”, mas sustentam presença com direção.
Eles sabem quando entrar. Quando pausar. E, sobretudo, quando não reagir imediatamente.
Esse tipo de liderança ativa o que Daniel Goleman chamou de “atenção executiva”: uma forma de foco que regula a resposta emocional, organiza prioridades e permite decisões mais conscientes.
Outro estudo conduzido pela Harvard Business Review (2021) revelou que líderes que treinam sua atenção executiva apresentam 37% mais eficácia na resolução de conflitos internos, 28% mais clareza na comunicação de prioridades e são percebidos como 42% mais confiáveis pelas suas equipes.
1. Estabeleça microciclos de foco deliberado: Trabalhe em blocos de 52-17 minutos com foco total, intercalados por pausas de recuperação cognitiva. A técnica Pomodoro é um bom começo, mas pode ser adaptada ao seu ritmo natural.
2.Defina prioridades com linguagem comportamental: Ao invés de dizer “preciso focar”, diga: “Hoje, entre 9h e 11h, estarei dedicado a…”. Isso ativa a clareza do sistema executivo e aumenta a taxa de execução.
3. Defina metas cognitivas diárias: Ao invés de listas infinitas, estabeleça uma única tarefa que, se concluída, já fará o dia valer.
4. Mapeie padrões de fuga cognitiva: Onde sua atenção escapa? Notificações? Redes sociais? E-mails? Conversas paralelas? Aponte, aceite e reconfigure com rituais de atenção (como desligar notificações ou usar foco guiado).
5. Mantenha a constância mínima viável: Faça menos, mas de forma contínua. A constância constrói mais autoridade do que o esforço esporádico.
6. Treine a atenção como um músculo
Práticas de mindfulness, leitura profunda, escrita reflexiva e até exercícios físicos ajudam a modular o sistema dopaminérgico e fortalecem a capacidade de manter atenção sustentada.
7. Descanse antes de esgotar: Pausas não são luxo. São parte da produtividade. O cérebro precisa de oscilação entre esforço e recuperação para consolidar aprendizados.
Muitos líderes acham que autoridade vem do carisma, da presença, da eloquência. Mas, em última instância, autoridade é percebida quando há coerência entre intenção e atenção.
Se você não consegue sustentar foco no que importa, sua liderança parece instável — mesmo que você esteja sempre presente. Isso mina a confiança.
A atenção que você treina hoje é a liderança que os outros reconhecem amanhã.
Foco não é um estado fixo — é uma decisão frequente.
Exige consciência dos próprios limites, domínio sobre estímulos externos e clareza de propósito.
O cérebro responde ao que é repetido com prioridade.
E o que você prioriza, molda o que você se torna.
A autoridade de um líder não se constrói apenas com bons argumentos, mas com a repetição coerente de ações que sinalizam clareza, constância e direção.
Sustentar atenção é sustentar presença.
E presença sustentada constrói liderança percebida.
Se você quer que sua liderança seja lembrada amanhã, cuide do que foca hoje.
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